quinta-feira, 19 de junho de 2008

Onde está a essência da motivação?


Patrícia Bispo

O ser humano possui duas escolhas na vida: ficar onde está, sem evoluir um único centímetro, ou ir em busca de suas conquistas e alcançar objetivos pessoais e profissionais. Para alguns, isso é chamado de “livre arbítrio”, para outros “arregaçar as mangas e correr contra o tempo”. Não importa que denominação receba a força que move as pessoas. A motivação é algo que se alimenta do interior de cada indivíduo, e cabe a cada um a fazer o seu papel. Por outro lado, vale lembrar que no campo organizacional, as empresas também possuem uma importante parcela de colaboração para motivar os profissionais. A questão em si não é o quanto investir, mas que ações realmente fazem os indivíduos sentirem-se parte da realidade corporativa e não apenas serem meros espectadores de algo que acontece sem suas efetivas participações.
Para Gilclér Regina, consultor motivacional com mais de 20 anos de experiência na área de Recursos Humanos, o homem é um ser motivado e vencedor, vem de uma fusão de equipe, o pai e a mãe, cada um entrando com 23 cromossomos e nessa união acontece uma verdadeira explosão de 300 bilhões de gens. “Nasce aí o ser mais motivado do mundo, vencendo uma concorrência em gens equivalente a 50 populações do planeta Terra”, afirma. Em entrevista concedida ao RH.com.br, Gilclér fala sobre as origens da motivação, os fatores que reforçam ou fragilizam a sua existência no campo pessoal e organizacional.

Gilclér Regina será um dos participantes do 2º ConviRH (Congresso Virtual de Recursos Humanos), promovido pelo RH.com.br que acontecerá no período de 15 a 30 de maio de 2008. Na oportunidade, Gilclér participará do evento com a palestra “Agregando Valor à Gestão de sua Carreira Profissional”. Além dessa temática, outros assuntos serão focados em apresentações como networking, liderança, motivação, comunicação verbal, resiliência, espiritualidade no trabalho, inteligência emocional, além de vários temas de grande interesse para a área de Gestão de Pessoas. Confira a entrevista na íntegra e aproveite a leitura!

RH.COM.BR - O Sr. costuma afirmar que a motivação é uma força que move as pessoas para frente, que as leva a sair da inércia. Qual fator mais influencia a motivação: o comportamental do indivíduo ou os estímulos exteriores que se recebe da organização?

Gilclér Regina - Não existe qualquer negócio no mundo que seja sucesso sem uma equipe de trabalho motivada. O ser humano nasce, cresce e vive num ambiente global e competitivo onde uns tem mais sucesso que outros. É a competição da vida. Alguns são até mais felizes que outros. Assim, no universo das empresas, penso que o vai definir o resultado é essa junção das duas situações, ou seja, da parte da empresa, criar mecanismos que trabalhem o estímulo das pessoas e da parte do funcionário entender que ele pode buscar sua diferença e que se ele estiver motivado para se preparar, buscar conhecimento, construirá uma carreira de sucesso na empresa e no mercado. Conhecimento destrói incertezas. Conhecimento com motivação constrói certezas, isto é, resultados.

RH - De onde surge a motivação humana?

Gilclér Regina - Desde que ele existe. O ser humano usou seu cérebro inicialmente para sua sobrevivência, sempre vivendo em grupos, vamos chamar aqui de família. Essa motivação persiste até os dias atuais. O Rei Salomão disse: “O coração alegre é bom remédio, mas o espírito abatido faz secar os ossos”. Sempre teremos dois caminhos, vivemos em um mundo de escolhas. O abatido, o desanimado, aquele que faz “secar os ossos” muitas vezes se apresenta como um realista, sendo na verdade um grande pessimista. Felizmente o mundo dos vitoriosos, dos “corações alegres”, daqueles que constroem grandes empresas, grandes carreiras em todos os setores, são das pessoas que têm na motivação uma bandeira, trabalham sua vocação, vivem em movimento, têm motivos para agir o tempo todo.

RH - E no âmbito organizacional, quem responde pelos estímulos motivacionais?

Gilclér Regina - A primeira responsabilidade é da própria empresa e de sua liderança, que deve ter seu foco, formar um ambiente que ao mesmo tempo dê serenidade às pessoas e por outro lado provoque-as ao desempenho do trabalho, dos desafios. O ser humano vive de desafios. O sucesso já é construído com a escolha das pessoas certas. O líder nesse processo é fundamental. As pessoas trabalham muito mais em função do seu chefe do que sua marca. E a marca pessoal da liderança reflete diretamente nos resultados.

RH - O líder é o principal personagem motivador da equipe?

Gilclér Regina - O líder deve saber trabalhar com duas situações. Primeiro que ele estará diante de pessoas e estas são na sua essência muito diferentes, com reações e perfis diferentes. O que fazer? Saber aceitar as diferenças individuais e ao mesmo tempo trabalhar o potencial de cada um. Segundo, reconhecer o que a maioria de todas as lideranças no mundo reconhece, isto é, entender que o grande desafio para se atingir metas e objetivos passa por uma equipe motivada. Não se pode construir uma empresa 100% em excelência e resultados com uma equipe 50% em comprometimento com metas, em qualidade ou na aceitação dos desafios.

RH - Se o líder possui esse papel destacado na equipe, ele precisa estar sempre motivado ou sua equipe fatalmente irá se contaminar pela falta de motivação?

Gilclér Regina - Se o líder não for alguém motivado sua equipe estará morta. Ou ele, porque não vai conseguir dar seqüência ao trabalho. A motivação, mesmo sendo um estado de espírito, também está presente no ambiente de trabalho. Ninguém dá uma notícia alegre chorando como também não dá uma notícia triste com alegria e entusiasmo. É preciso ter consciência do seu papel. No meu livro “No Topo do Mundo” eu trabalhei bem isso dizendo: “Uma palavra convence... Um exemplo arrasta multidões”. O líder é o exemplo. Veja a TAM, até hoje, mesmo postumamente tem o exemplo do Rolim Amaro praticado por seus sucessores. Há pouco tempo atrás ainda se ouvia em alguns lugares o tal do “faça o que eu mando e não faça o que eu faço”. Hoje quem pensar assim está morto, literalmente.

RH - O que alimenta a motivação do ser humano?

Gilclér Regina - Nós que trabalhamos as palestras motivacionais sabemos disso, da importância que um trabalho que busque identificar toda a energia, canalizar essa energia e motivação para o conteúdo, para o trabalho, ajuda a construir ou consolidar um ser humano de sucesso. Um professor de colégio em São Paulo fez outro dia esta afirmação: “No mundo real a turma da frente acaba trabalhando para a turma do fundão”. O que é isso? No meu tempo quem sentava no fundo era o bagunceiro e o certinho e disciplinado sentava na frente. Por que o estudioso vai trabalhar para o bagunceiro? Por causa da criatividade que o bagunceiro criou pelas próprias limitações que teve de conteúdo. Ficou mais ágil. Lembro daquela história do filho que chega para o pai com o boletim todo com notas vermelhas e o pai lhe diz: “No meu tempo isso rendia uma bela de uma surra”. E o menino diz ao pai: “É isso aí pai, vamos lá dar um cacete no professor”. Esse é lado da saída, do motivado que está pronto aos desafios da vida. Quando conseguimos via motivação, juntar as peças o sucesso está feito. Quando você consegue reunir a criatividade e a motivação de quem senta atrás com a disciplina e o conteúdo de quem senta na frente, acaba tornando-se imbatível.

RH - Existe uma oscilação nos fatores motivacionais?

Gilclér Regina - É verdade, isso vem do próprio ser humano que desde que nasce, convive com momentos em que tem medo e em outros está em euforia. Vive momentos de saúde e de doença. Vive em um mundo onde um dia chove e no outro faz sol. E diante destas incertezas, constrói o seu estado de espírito. É importante ter essa consciência para não perder o rumo, ter sempre em pauta o foco, nunca sair do seu foco. Perguntar-se: qual é o meu negócio? O fundador da marca de cosméticos conhecida mundialmente “Revlon”, Charles Revlon, disse: “Nas fábricas produzimos cosméticos. Nas lojas vendemos esperança”. Tinha claro que uma coisa é o produto que fabrica outra coisa é o que as pessoas compram. Isso é foco. Em plena recessão americana, Sam Walton, fundador do Wal Mart, o maior faturamento do mundo, disse: “Ouvi falar muito ultimamente sobre recessão, fiz uma reunião com a minha diretoria e resolvemos não participar”. Ele tinha claro que o mundo ao seu redor estava ruindo, mas o seu foco era o positivo. Essa consciência do negativo sem perder o foco do positivo é a razão do sucesso de muitos. Mesmo sabendo que existe altos e baixos, o positivo se alimenta do negativo. Se você ficar doente irá gastar seu dinheiro na farmácia ou com o médico.

RH - Quais são os principais indicadores que revelam uma equipe motivada?

Gilclér Regina - São vários os indicadores como qualidade, produtividade, baixo turnover, maior responsabilidade social da equipe de trabalho em consonância com o marketing da empresa, saúde das pessoas, reduzido índice de pessoas com atestado médico ou encostados na previdência, uma equipe consciente para aceitar e trabalhar melhor novos desafios, paixão das pessoas que trabalham e que se nota por certo brilho no olhar e essencialmente resultados, seja de lucro final, de participação em mercado, seja de satisfação interna e clima de camaradagem que propicia um crescimento sustentado, verdadeiro, sucesso em longo prazo.

RH - Quais fatores identificam a falta de motivação e colocam em risco o dia-a-dia corporativo?

Gilclér Regina - Acredito que tudo vá estourar no resultado final, vivemos não de promessas, nem de palavras ou desculpas. Vivemos de resultados. Porém, essa identificação é mais visível quando não há comprometimento com o trabalho, com a qualidade, com as ações estratégicas da empresa. Vai tudo estourar lá, no balanço. As empresas têm problemas de motivação e nem sempre buscam melhorar a sua motivação interna, não promovem eventos voltados para o seu pessoal. Investem milhões numa frota de caminhões e não investem dez mil reais no treinamento de motoristas que, muitas vezes, por problemas de comportamento, falta de atitude e motivação, de ética, desviam combustíveis, estouram os pneus, estouram os diferenciais e até procuram burlar o satélite. Nos eventos motivacionais você pode colocar do presidente ao copeiro ou a faxineira e tendem a falar mais do negócio, da empresa, seus conflitos, suas verdades. O ser humano quer participar e não apenas ser um figurante. E quem participa, quer estar diretamente relacionado à ação, aos resultados.

RH - O Sr. gostaria de deixar um recado para quem busca o "tesouro" chamado motivação?

Gilclér Regina - Tenho uma frase no meu livro “No Topo do Mundo” em que eu disse assim: “Uma pessoa que sonha é mais forte do que aquele que possui todos os fatos”. O tesouro é sonhar de olhos bem abertos e trabalhar para isso acontecer. Como disse o Abílio Diniz: “Enquanto alguns sonham com o sucesso nós acordamos cedo para fazê-lo”. Os realistas estão a caminho. Os sonhadores já chegaram lá. Na vida nós temos dois grandes milagres diários, o nascer do sol e o pôr-do-sol. Isso por si só já mostra que Deus nos deu motivação de sobra para fazer sucesso. Ninguém nasceu para ficar rastejando-se ao chão. Nós nascemos para voar alto. Detalhe: a decisão de ir em frente, buscar o “tesouro” é de cada um.